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Executivos da indústria química e BNDES discutem ações para aumentar a competitividade do gás natural

Terca-Feira, 16 de Junho de 2020

Reprodução: YouTube/Abiquim



A Abiquim realizou, no dia 12 de junho, a live “Oportunidades do gás natural para a indústria química brasileira”, em seu canal no YouTube. A programação contou com a participação de Daniel Hubner, membro do Conselho Diretor da Abiquim e diretor Comercial da Yara Fertilizantes; do diretor de Infraestrutura, Concessões e Parcerias Público-Privadas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Fábio Abrahão; do gerente de Inteligência de Mercado do Departamento de Indústrias de Base e Extrativa do BNDES, Pedro Dias; e teve moderação do presidente-executivo da Abiquim, Ciro Marino; e da gerente de Comunicação da Associação, Camila Matos.  

O recém-lançado estudo do BNDES “Gás para o Desenvolvimento” foi o tema de partida do debate. O documento aponta a questão da infraestrutura como um dos principais entraves para o desenvolvimento do mercado de gás offshore. O BNDES sugere investimentos em rotas de escoamento, em UPGN`s, dentre outros, para trazer o gás até a costa para consumo. O banco irá conversar com players, tanto do lado da oferta, como da demanda. A equação de destravamento também passa por questões regulatórias, mas o conceito é de um choque de abertura de mercado e de oferta crescentes, que devem trazer o preço da molécula a patamares mais baixos e alinhados ao mercado internacional.

O diretor de Infraestrutura, Concessões e Parcerias Público-Privadas do BNDES, Fábio Abrahão, destacou a importância do insumo e sua disponibilidade a preços competitivos para o desenvolvimento industrial brasileiro. Segundo Abrahão para isso ocorrer é necessário o equilíbrio entre oferta e demanda, além de uma infraestrutura adequada para suprir essa demanda. O diretor do BNDES explica que o banco foi chamado pelo governo por ser um agente neutro, que financia empreendimentos em todo o País e nas diferentes cadeias, o que gera conhecimento de todos os aspectos da economia nacional. “O banco ainda consegue transitar entre as diferentes esferas de poderes e conhece as medidas que podem impactar o setor para os próximos anos. A instituição está voltada a transformar a riqueza latente (gás natural) em riqueza concreta para a nação”, explica Abrahão.            

O gerente de Inteligência de Mercado do Departamento de Indústrias de Base e Extrativa do BNDES, Pedro Dias, lembrou que a Abiquim trabalha há muito tempo na agenda do gás natural e afirma que o banco tem ciência que a indústria química é o principal consumidor do insumo e o novo estudo avalia quais seriam os principais setores demandantes e quais poderiam adotar o gás natural como fonte de energia. “A gente precisa mapear quais são os projetos de investimentos e as condições para que eles saiam do papel, em muitos estudos a viabilização do projeto só dependeria das condições de gás do Brasil”. 

O estudo ainda traz embutido o conceito de mercado concorrencial, com o choque de oferta para diminuir o preço do gás natural no mercado brasileiro. As regulações federais e estaduais deverão estar na pauta de destravamento e de muita atenção, como a questão estadual da Tarifa de Uso dos Gasodutos de Distribuição (TUSD), embora questões regulatórias sejam sempre complexas. A Abiquim está acompanhando bem de perto a questão dos consumidores livres junto às agências reguladoras estaduais, como forma de não ser surpreendida com elevações na equação do preço final de aquisição do gás. Certamente, esse tema, muito bem levantado, deverá ser objeto de conversas e atenção com o BNDES.

A importância de promover avanço nas ações para tornar o gás brasileiro mais competitivo foi lembrada pelo membro do Conselho Diretor da Abiquim e diretor Comercial da Yara Fertilizantes, Daniel Hubner. O executivo explicou que a indústria química usa o gás natural como fonte de energia e matéria-prima. 

O abastecimento e a oferta de gás continuam normais no País, embora no cenário atual os preços desse insumo ainda sejam elevados e desalinhados da realidade internacional. “Mas a demanda do setor vem caindo, pois estamos perdendo competitividade. Temos o gás, que é uma fonte confiável e limpa, mas com problema de competitividade. O preço hoje está atrelado ao preço do Brent, mas no Brasil o setor paga um valor referenciado ao Brent de 40 dólares e um contrato a 12% desse valor, se não houvesse delay, teríamos uma molécula a 4 dólares e que chega para a indústria a 8 dólares o milhão de BTU. Nos EUA e Europa, vemos preços abaixo de 3 e em alguns casos abaixo de 2 dólares o milhão de BTU”. O conselheiro da Abiquim ainda alertou sobre a importância do País ter um mercado mais competitivo e resolver os problemas estruturais no transporte do gás natural. 

Sobre a questão estrutural para o transporte da molécula, o diretor de Infraestrutura, Concessões e Parcerias Público-Privadas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Fábio Abrahão, afirmou que o banco ainda estuda a melhor forma de fomentar esse setor, incluindo a realização de leilões para aumentar a alternativa de fornecedores no mercado. E completa: “o BNDES vai atuar onde pode destravar essa demanda, pois temos que ter demanda para viabilizar o investimento em infraestrutura”.

A especificação do gás natural, regulada por meio da resolução ANP nº 16/2008, também foi objeto de destaque na live. Há um debate em termos de alteração dessa resolução acontecendo neste momento entre a Agência Nacional do Petróleo (ANP), consumidores e produtores. A posição de várias associações industriais, incluindo a Abiquim, manifestada à ANP, tem sido de manutenção da atual resolução, como medida de garantia e segurança operacional. A manutenção da qualidade atual do gás permitiria expandir a oferta de líquidos provenientes do gás do pré-sal e atrair investimentos em petroquímica a partir de etano e propano.

Outros temas 

Durante a live, também foram recebidas perguntas sobre outros temas relacionados ao gás natural. Seguem abaixo as respostas suscintas da equipe técnica da Abiquim a esses questionamentos: 

Quais as reservas de gás natural e de hidratos do Brasil?

Mundialmente, não existe ainda perspectiva para a exploração comercial de hidratos, pois a tecnologia é complexa e muito cara, embora seja considerada uma grande reserva energética, por ser encontrada no subsolo marinho. Existe um questionamento quanto a possíveis danos ambientais que esses hidratos podem causar quando liberados do solo marinho. A questão ambiental tem sido um entrave dessa alternativa, embora também estejam ocorrendo investimentos em tecnologias de exploração, para viabilizar ambientalmente e em termos de custos de extração.  Para o Brasil, não fará sentido nos próximos anos em face da disponibilidade do pré-sal. As reservas de gás natural são fornecidas pela ANP e estão disponibilizadas no site (368,9 bilhões de m³ em 2018).

Existe uma oportunidade ou ameaça para o mercado de gás do Brasil com a operação e produção de shale gas argentino da região de Vaca Muerta, grande reserva de gás?

Apesar das reservas argentinas serem de shale gas, na atual conjuntura, incluindo o transporte até o sul do Brasil ainda seria uma alternativa cara. Por outro lado, a demanda de gás na Argentina é muito sazonal, com alto consumo no inverno. Esta condição pode conduzir a restrições de exportação nessas épocas, ou seja, existe o risco de ser uma oferta sazonal. Assim, não consideramos uma ameaça. Pode ser uma oportunidade, perante as dificuldades de levar gás natural do pré-sal até o Rio Grande do Sul.

O que está sendo feito para forçar o mercado competitivo? Para reduzir o gasto de "partida"?

O Estudo do BNDES aborda muito bem este tema, que é na verdade a tentativa do Novo Mercado de Gás. O gasto de “partida” (molécula) só será reduzido com a multiplicidade da oferta.

Como destravar esta grande oferta pré-sal, frente aos interesses de vários stakeholders produtores x consumidores? Reinjeção x Demanda Firme x Preços Competitivos?

Quando forem resolvidos os “nós” que cercam o mercado, principalmente regulação, distribuição e impostos, os preços tendem a cair com o aumento da oferta e redução dos investimentos em infraestrutura, que se esperam. Os produtores utilizam a opção da reinjeção como alternativa, mas ela é cara e tecnicamente pode ser complexa: assim, a existência de demanda firme pode ser um excelente negócio para os produtores. Basta lembrar que o gás na saída da plataforma tem custo zero e é mais barato que a reinjeção.

Como tornar o gás competitivo para a indústria química com o preço alto da energia elétrica, que monetiza o GN através das UTE's?

O gás para geração elétrica só baliza o preço do gás porque a oferta/demanda para outros fins não está estruturada. O preço de gás será regulado no futuro pela oferta x demanda.

Quais os planos para extrair os líquidos do GN, que são matérias-primas para indústria petroquímica?

A extração dos líquidos (propano, butano, gasolina) é necessária para atender as especificações existentes (ANP). O etano é um caso especial que vem motivando fortes discussões, mas a sua utilização como matéria-prima dependerá do preço, ou seja, da oferta.

Clique aqui para assistir a live “Oportunidades do gás natural para a indústria química brasileira” no canal da Abiquim no YouTube. 

Clique aqui para fazer o download do estudo Gás para o Desenvolvimento do BNDES.