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Do laboratório à indústria: construindo soluções circulares para o setor químico
Segunda-Feira, 01 de Dezembro de 2025
A Economia Circular tem ganhado protagonismo no debate industrial brasileiro, especialmente diante da urgência climática e da necessidade de ampliar a competitividade com responsabilidade socioambiental. Parceira estratégica da Abiquim, a Firjan tem atuado de forma decisiva na construção de políticas públicas, na orientação técnica às empresas e no desenvolvimento de soluções inovadoras que conectam ciência, indústria e sustentabilidade. Vale lembrar que em julho deste ano, Abiquim e Firjan SENAI celebraram acordo de cooperação técnica para ampliar iniciativas de inovação, sustentabilidade e competitividade, priorizando projetos de biossintéticos e insumos renováveis.
Para aprofundar essa agenda, conversamos com Antonio Augusto Fidalgo Neto, Gerente de Pesquisa, Aplicações em Química, Biologia e Saúde no Parque Tecnológico Firjan SENAI SESI. À frente de iniciativas que fortalecem a transição para modelos produtivos mais circulares, ele compartilha sua visão sobre avanços, desafios e oportunidades para a indústria fluminense e nacional.
1.Abiquim Informa: O Instituto SENAI de Inovação em Química Verde está inserido em um ecossistema que reúne outros quatro institutos dedicados a ciência, tecnologia e sustentabilidade. Como essa estrutura integrada apoia o avanço da economia circular no país?
Antonio Augusto Fidalgo Neto: Hoje fazemos a gestão de cinco institutos instalados no Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), cada um com competências complementares: tecnologias da informação, materiais, fibras e têxteis, processos químicos e sustentabilidade, além de saúde ocupacional. Essa diversidade cria uma capacidade única de atender desafios ligados à economia circular, desde modelagens digitais (in silico) até o desenvolvimento de protótipos, testes laboratoriais e validação industrial. Isso amplia muito as possibilidades de oferecer soluções integradas às empresas.
2.AI: A Firjan teve atuação importante na construção da Política Nacional de Economia Circular. Como vocês avaliam a aprovação desse marco regulatório e seus impactos para a indústria?
AAFN: A Política Nacional exige um novo modelo mental. À primeira vista, mudanças podem parecer difíceis, mas quando analisamos o médio e longo prazo, os impactos são extremamente positivos. A circularidade não diz respeito a um setor isolado, e sim a toda a cadeia produtiva. No caso do setor químico, muitas vezes o primeiro elo da cadeia, faz todo sentido otimizar materiais e pensar no retorno dos insumos após o uso. É um movimento inevitável — por razões econômicas, ambientais e competitivas.
3.AI: Do ponto de vista de P&D, quais são hoje as principais linhas de pesquisa e inovação que o Instituto vem desenvolvendo para apoiar a circularidade junto às empresas?
AAFN: Praticamente 100% das nossas iniciativas têm relação direta com circularidade. Temos uma forte agenda de projetos voltados à reciclagem — especialmente quando lidamos com materiais compósitos ou estruturas complexas, que exigem etapas de separação, purificação e tratamento. Trabalhamos, por exemplo, em soluções para mangueiras hidráulicas que contêm borracha, metal e óleo lubrificante. O foco é gerar inteligência tecnológica para viabilizar a reciclagem e conferir novos usos a materiais antes considerados resíduos.
4.AI: Quais são hoje as principais barreiras tecnológicas ou regulatórias que ainda limitam a ampliação da circularidade industrial?
AAFN: Os desafios existem em várias camadas. A primeira é tecnológica, e aí temos grande competência com nossa infraestrutura laboratorial avançada. Mas também há barreiras regulatórias e econômicas. De nada adianta desenvolver uma solução tecnicamente impecável se ela for mais cara do que o produto virgem, por exemplo. Por isso sempre avaliamos viabilidade técnica, regulatória e mercadológica antes de propor qualquer projeto às empresas.
5.AI: A Firjan também tem apoiado as empresas na transição para tecnologias de baixo carbono. Quais iniciativas se destacam hoje no campo da inovação climática?
AAFN: Temos de três a cinco projetos robustos em captura de carbono, incluindo tecnologias de captura diretamente do ar. Outra frente é a produção de hidrogênio de baixo carbono, com forte participação de empresas de energia. Também trabalhamos em novos combustíveis, como alternativas renováveis para aviação. Há muito investimento sendo direcionado a essas soluções, o que mostra a preocupação real da indústria e o avanço concreto dessa agenda.
6.AI: Quais setores industriais você considera mais avançados na agenda da economia circular?
AAFN: O setor automotivo demonstra grande prontidão e já participa de várias iniciativas. A indústria de energia também está muito engajada. Setores mais pulverizados, como o têxtil, encontram maior dificuldade de integração. Já o setor químico, pela sua natureza técnica e nível de organização, talvez seja o mais preparado: ele produz a matéria-prima e, ao mesmo tempo, detém o conhecimento necessário para viabilizar o retorno desses materiais ao ciclo produtivo.
7.AI: Desde 2015 – quando surgiu o Instituto SENAI de Inovação - qual foi o maior avanço que você percebeu na evolução da circularidade e da sustentabilidade industrial?
AAFN: Há dez anos, muitos projetos estavam focados apenas em eficiência operacional. Hoje não existe mais desenvolvimento sem considerar sustentabilidade — ambiental, financeira e social. A consciência das empresas mudou de forma marcante. É uma transformação visível nos projetos que chegam até nós e na forma como a indústria enxerga seu papel diante de desafios como escassez de recursos, pressão climática e resiliência de materiais.