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Abiquim apresenta estudo inédito sobre neutralidade climática da indústria química
Segunda-Feira, 03 de Novembro de 2025
Evento reuniu governo, indústria e especialistas para discutir políticas
públicas e soluções tecnológicas rumo a uma economia de baixo carbono
“A sustentabilidade não é uma área isolada, é uma visão de negócio, de política industrial e de desenvolvimento nacional”, afirmou o presidente-executivo da Abiquim, André Passos Cordeiro, na abertura do evento “A Indústria Química e a COP30: Desafios, Oportunidades e Alinhamento com Políticas Públicas”, promovido pela Associação em 28 de outubro, em São Paulo.
O encontro marcou o lançamento do Estudo de Neutralidade Climática da Indústria Química Brasileira, desenvolvido pela Carbon Minds, em parceria com a Abiquim, que apresenta caminhos e oportunidades para a descarbonização do setor com base em dados técnicos e projeções globais.
Passos destacou a relevância do momento para o futuro da economia brasileira. “Quando falamos em neutralidade climática, falamos de um processo transformador, capaz de posicionar o Brasil como protagonista na economia sustentável global.” Ele ressaltou ainda que a descarbonização depende de um ambiente regulatório e econômico estável, com políticas integradas como o Presiq, a Taxonomia Sustentável Brasileira e o futuro Mercado Regulado de Carbono. “Essas iniciativas, alinhadas à Nova Indústria Brasil, são pilares de uma reindustrialização sustentável, que combina inovação, competitividade e redução de emissões”, completou.
Brasil pode liderar rota global de emissões negativas, aponta estudo
Abrindo o primeiro painel, “Caminhos para a descarbonização e políticas públicas para a indústria química”, o diretor-executivo da Carbon Minds, Raoul Meys, apresentou o estudo “Trajetórias para a Neutralidade Climática da Indústria Química Brasileira”. O levantamento mostra como o setor pode alcançar a neutralidade, quais tecnologias estão disponíveis e quais investimentos e condições habilitadoras — como biomassa, captura e armazenamento de carbono (CCS) e reciclagem — são necessários para viabilizar a transição.
Segundo Meys, trajetórias que priorizam o uso de recursos renováveis e tecnologias nacionais tendem a ter menores custos e maior independência externa. “Com visão e coordenação, o Brasil pode transformar sua ambição climática em liderança industrial. Trata-se de um dos poucos países capazes de gerar emissões negativas em escala industrial, combinando biomassa abundante e potencial de armazenamento geológico. O momento de agir é agora”, afirmou.
Na sequência, a gerente de Regulatórios e Sustentabilidade da Abiquim, Camila Hubner, destacou que a indústria química brasileira já tem a menor pegada de carbono do mundo, resultado do uso crescente de energia renovável, biomassa e tecnologias de abatimento de gases de efeito estufa.
Camila reforçou o papel da Abiquim na construção de políticas públicas junto ao governo - como a Taxonomia Sustentável, o Plano Clima, a Estratégia Nacional de Descarbonização Industrial e o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões – e defendeu a importância de políticas integradas de incentivo à inovação, acesso competitivo a matérias-primas e clareza regulatória, lembrando que o Presiq e a transição energética são instrumentos fundamentais para manter o protagonismo do setor.
Camila concluiu enfatizando que investir em tecnologias climaticamente neutras é essencial não apenas para reduzir emissões, mas também para assegurar o crescimento sustentável e a competitividade da indústria química brasileira no longo prazo.
Políticas públicas e financiamento: rumo a uma transição justa e competitiva
O segundo painel do encontro abordou o papel do Estado e da indústria na construção de políticas públicas voltadas à transição para uma economia de baixo carbono. Mediado por Juliana Falcão, da Base Zero Consultoria em Sustentabilidade, o debate reuniu Julia Cruz, da Secretaria Nacional de Economia Verde do MDIC; Rafaela Aloise Freitas, especialista de Políticas Públicas da CNI; e Paulo José Pereira de Resende, do Departamento de Transição Energética da Finep.
Julia Cruz explicou que a Secretaria atua sob a ótica da competitividade industrial, e não apenas ambiental. “Não somos um órgão de meio ambiente dentro do Ministério da Indústria, mas um espaço que busca compreender como o contexto geopolítico e climático global impacta a indústria brasileira — e, principalmente, como pode gerar oportunidades”, afirmou.
Ela lembrou que, por já ter uma matriz elétrica limpa, o Brasil precisa avançar na descarbonização dos processos produtivos, especialmente nos setores intensivos em energia, como o químico. Segundo Cruz, o mercado de carbono e o Plano Clima são essenciais para equilibrar ambição climática e competitividade, garantindo normas adequadas, financiamento acessível e negociação internacional estratégica.
Rafaela Aloise, da CNI, reforçou que a indústria participa ativamente da construção do Plano Clima, que operacionaliza as metas de redução de emissões do Acordo de Paris. O país se comprometeu a reduzir 48% das emissões até 2025 e 51% até 2030, em relação a 2005. “O mercado de carbono é uma oportunidade para promover inovação e competitividade, desde que a regulamentação considere as realidades produtivas dos setores”, afirmou.
Encerrando o painel, Paulo Resende, da Finep, destacou o papel estratégico do financiamento público na transição energética. Ele apresentou linhas de crédito e subvenção para projetos de inovação tecnológica, economia circular e descarbonização industrial, alinhadas às missões do Nova Indústria Brasil. Segundo ele, em 2026 a Finep deve operar com o maior volume de crédito de sua história, ampliando o apoio a projetos de baixo carbono.
Indústria química mostra avanços concretos rumo à neutralidade
Mediado por Carolina Sartori, assessora de Sustentabilidade da Abiquim, o terceiro painel do evento abordou experiências concretas de descarbonização e inovação conduzidas por empresas associadas que são referência global na agenda climática. Participaram Renata Ferrari, gerente de descarbonização da Yara Fertilizantes; Roberta Manzini, gerente de Desenvolvimento Sustentável da Braskem; e Santiago Ricco Pavão, gerente Sr. Energias e Utilidades América do Sul da Basf.
Renata Ferrari, da Yara, relatou que a empresa já reduziu 45% das emissões desde 2005, com uso de catalisadores próprios para abatimento de N₂O e projetos de amônia de baixa intensidade de carbono. A Yara investe também em biometano no polo de Cubatão e em iniciativas internacionais de CCS.
Roberta Manzini, da Braskem, apresentou o Plano Integrado de Descarbonização, que prevê reduzir 15% das emissões até 2030 e atingir neutralidade até 2050. Entre as ações estão o uso de biomassa em Alagoas, eletrificação de turbinas no ABC paulista e a ampliação da matriz energética renovável, hoje acima de 80%. A empresa também aposta em biopolímeros e matérias-primas circulares como pilares de longo prazo.
Já Santiago Ricco Pavão, da BASF, destacou a meta global de reduzir 25% das emissões até 2030 e atingir emissões líquidas zero em 2050. Ele apresentou o projeto de caldeira elétrica no complexo de Guaratinguetá, que permitirá antecipar metas climáticas e reduzir 22 mil toneladas de CO₂ por ano, além de ações de eficiência energética e uso integral de energia elétrica renovável nas operações da América do Sul.
O painel demonstrou que a inovação tecnológica, combinada a políticas públicas de incentivo e instrumentos financeiros adequados, é essencial para acelerar a descarbonização e garantir que o Brasil avance rumo a uma economia mais sustentável e competitiva.