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Perda de competitividade e agressividade das importações impactam 1º semestre de 2024 do setor químico

Quarta-Feira, 21 de Agosto de 2024

País precisa agir rapidamente para conter o surto de importações,

sob risco de perder fábricas e empregos



De acordo com os últimos dados do Relatório de Acompanhamento Conjuntural relativos ao 1º semestre de 2024, a produção de químicos de uso industrial caiu 1,14% e o volume de exportações recuou expressivos 27,5%, em relação ao mesmo período de 2023, o que demonstra que além de encontrar dificuldades para competir no mercado local, a indústria química brasileira está com fortes problemas de competição no mercado externo.

 

Já os demais indicadores de volume apresentaram crescimento no acumulado entre janeiro e junho deste ano: vendas internas subiram 4,39% e consumo aparente (CAN) cresceu 0,4%, o que não traduz fielmente o cenário crítico pelo qual o setor vem passando, visto que as importações continuam crescendo paulatinamente. Neste mesmo período, elas apresentaram alta de 4,5%, alcançando expressivos 45% da demanda local. 


Consequentemente, o nível de utilização da capacidade instalada ficou em 63% nos primeiros seis meses deste ano, três pontos percentuais abaixo do registrado na média de igual período de 2023. Destaque para o grupo intermediários para fertilizantes, que recuou de 67% o uso da capacidade instalada entre janeiro e junho do ano passado para apenas 58% nos seis primeiros meses de 2024, sobretudo pela hibernação das plantas de intermediários para fertilizantes do grupo Unigel.

 

Grupos mais afetados pelas importações

No acumulado do 1º semestre de 2024, em relação ao mesmo período de 2023, o volume importado da amostra de produtos do RAC, excluindo os intermediários para fertilizantes, cresceu 21%, com recuo de preços dessa amostra da ordem de 9%.

 

As maiores altas de importações ocorreram nos grupos de resinas termoplásticas (+48,2% volume e -8,6% preço), intermediários para resinas termofixas (+42,4% volume e -16% preço), solventes industriais (+39,9% volume e -6,9% preço) e resinas termofixas (+31% volume e -16,1% preço).

 

Preços

Em termos de preços praticados no mercado doméstico, o IGP Abiquim-Fipe subiu ligeiramente em junho de 2024 (+0,09%), na comparação com o mês anterior, acumulando alta nominal de 4,94% entre janeiro e junho de 2024. Em termos “reais”, o IGP Abiquim-Fipe, deflacionado pelo IPA-Indústria de Transformação, acumulou crescimento de 4,8% entre janeiro e junho deste ano. Em igual período, deflacionando-se o IGP pela variação do Real, em relação ao Dólar, os preços médios registraram queda de 8,6% e, em relação ao Euro, o recuo foi de 5,7%. Importante frisar o aumento de preços de matérias-primas e energia, pressionando os custos no mercado local.

 

Déficit químico em franca ascensão

 

Nos últimos doze meses, até junho de 2024, em relação aos doze meses anteriores, os principais indicadores da Abiquim, em termos de volume, mantêm o cenário negativo: produção interna caiu 5,89%, vendas internas recuaram 1,83% e exportações declinaram expressivos 23,3%. Por outro lado, puxada pela forte alta das importações (+9,5%), a demanda doméstica cresceu 1,0%.

 

O nível de penetração das importações da amostra do RAC vem aumentando ano a ano, passando de cerca de 7% no início dos anos 1990 para 48% nos últimos doze meses, até junho de 2024. Além da elevada participação das importações sobre a demanda nacional, deve-se registrar a manutenção do elevado déficit na balança comercial dos produtos químicos, que registrou um valor de US$ 44,35 bilhões no acumulado dos últimos doze meses, até junho de 2024. Vale destacar que a queda de produção químicos em 2023 resultou em uma perda de quase R$ 8 bilhões em arrecadação para o país.

 

Cenário

A indústria química brasileira vem sendo muito impactada pela falta de competitividade de suas principais matérias-primas. No que se refere ao gás natural, enquanto a indústria nacional paga um valor de US$ 12,4/MMBTU, o mesmo gás é vendido por cerca de US$ 1,5/MMBTU nos Estados Unidos, por US$ 8,6/MMBTU na Europa e, na fronteira da Bolívia com o Brasil, por U$ 6,2/MMBTU.


Segundo Fátima Giovanna Coviello Ferreira, diretora de Economia e Estatística da Abiquim, mesmo a maior parte da atual oferta de gás para o mercado brasileiro sendo produzida em território nacional, infelizmente o consumidor brasileiro acaba pagando como se estivesse importando GNL, que é hoje o maior custo de gás no mercado internacional. “Essa situação foi agravada pelo intenso surto de importações de produtos químicos vindos de países asiáticos com competitividade artificialmente sustentada em insumos (gás natural e energia) e matérias-primas russas adquiridos por tais países com preços favorecidos em razão da guerra no leste europeu, deslocando os produtos fabricados no Brasil no próprio mercado interno e nos seus principais parceiros comerciais. Hoje, a China é o principal destino de exportações de óleo e gás da Rússia.”

 

Vale destacar que em abril de 2024, a Abiquim, em parceria inédita e histórica, assinou um Memorando de Entendimento com a Petrobras para avançar na possibilidade de compra de gás no mercado livre e também em buscar alternativas para elevar a oferta de gás natural. No mês passado, por sua vez, a entidade participou da comitiva brasileira, liderada pelo Ministério de Minas e Energia, em negociação na Bolívia sobre a possibilidade da nova oferta de gás natural do país vizinho e ainda a utilização de gás da Argentina por meio do Gasbol.

    

No âmbito geral, para contribuir no debate público sobre as melhores práticas de uma política comercial externa equilibrada, o segmento químico propôs ao governo a inserção de 63 produtos químicos na Lista de Elevações Transitórias da Tarifa Externa Comum do Mercosul. Na prática, deve haver uma elevação de impostos de entrada no Brasil para estes itens, pelo menos para compensar parcialmente os desequilíbrios de competitividade das matérias-primas na Ásia em relação ao Brasil. “Este pedido está em análise na Câmara de Comércio Exterior (Camex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Em recente encontro com o presidente Lula, recebemos com esperança o sinal verde dado ao setor, um respiro no sentido da aprovação da lista”, enfatiza André Passos Cordeiro, presidente-executivo da Abiquim.

 

Coviello afirma que além da urgência na implementação dos pleitos de inclusão de produtos químicos na lista transitória de elevação do imposto de importação, a Associação aguarda a divulgação do Programa Gás para Empregar. “O País precisa contemplar nesse projeto medidas que destravem investimentos em infraestrutura de escoamento e tratamento de gás, aumentem a oferta de gás para o mercado, mas sobretudo que ajudem a indústria a enfrentar essas diferenças gritantes em relação aos comparativos internacionais de preços de gás”, finaliza. 


Clique aqui e acompanhe a análise do economista Paulo Gala sobre o Relatório
de Acompanhamento Conjuntural do setor químico