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Transição energética é tema de apresentação do BNDES em encontro com Abiquim, na sede da entidade

Terca-Feira, 30 de Julho de 2024


Foto: Abiquim/Divulgação



“A matriz energética brasileira é mais renovável que a das maiores economias mundiais, o que representa uma vantagem comparativa no contexto da transição energética. Em especial em sua matriz elétrica, o país se destaca com 88% da geração oriunda de fontes renováveis contra 40% na média dos demais países do G20. Essas características colocam o Brasil em posição de ser uma liderança no processo de transição energética, podendo se destacar no mercado de hidrogênio de baixo carbono, na substituição de combustíveis fósseis por biomassa e biocombustíveis, na eletrificação e na captura e armazenamento de carbono, entre outras frentes - estabilidade geopolítica, recursos abundantes e segurança alimentar são algumas delas, além do forte apelo governamental.”

 

Essa afirmação foi feita por Luciana Costa, diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES, em participação virtual na reunião da Comissão de Prosperidade e Competitividade da Abiquim, realizada no dia 26 de julho, para falar sobre as oportunidades da Transição Energética para o Brasil e como transformar essas oportunidades em Investimentos.

 

Entre outros destaques da sua apresentação, Costa mostrou também que embora o País tenha uma janela de oportunidades histórica para assumir a liderança climática, o prazo é limitado já que o mundo está investindo massivamente em tecnologias de descarbonização, com diversos mecanismos de política industrial e protecionismo. “A ambição brasileira deve evitar repetir o modelo primário exportador de outros ciclos econômicos, e usar nossas vantagens comparativas para fazer a neoindustrialização do Brasil”, enfatizou a diretora.

 

Nesse sentido, ela ressaltou como o BNDES tem contribuído para impulsionar a transição. Segundo Costa, US$ 30 bilhões já foram anunciados em projetos de produção de hidrogênio renovável. Ela ainda mostrou os destaques financeiros do BNDES em 2023, os investimentos em energia e em infraestrutura, além de explicar como funcionam alguns produtos como o Fundo Clima, que foi atualizado, e o Fundo Amazônia - dinheiro de doação, cujos projetos são chamados por meio de consulta pública.

 

Ainda nesse contexto, Costa afirmou que a atuação do Banco vem contribuindo diretamente para a expansão das energias renováveis e a redução das emissões no setor elétrico, além de favorecer a atração de investimentos internacionais por meio da emissão de títulos verdes. Diante da urgência da agenda do clima, que passou a ser tratada como tema transversal na atuação do BNDES, a instituição, segundo ela, busca atuar como uma ‘plataforma verde’ para captação de recursos – locais e internacionais – destinados a projetos de descarbonização, neoindustrialização, combate ao desmatamento e infraestrutura sustentável.

 

Próximos passos

O economista Paulo Gala, que também participou do encontro, reconheceu a importância da agenda do BNDES mostrando que ela está totalmente alinhada com o que a Abiquim já vem colocando na mesa em audiências junto ao governo federal. Destacando a capilaridade do setor químico, Gala disse que um novo encontro com o BNDES com o objetivo de pensar em agendas conjuntas e gerar uma aproximação maior com o banco teria um efeito catalisador para materializar pontos em comum das duas entidades rumo a uma indústria verde. “Fundo Clima casa perfeitamente com os projetos da Abiquim”, exemplificou o economista que ainda acrescentou ser interessante, como um dos próximos passos, o próprio BNDES mostrar especificamente quais dos planos por ela apresentados mais se encaixam com as necessidades da indústria química.

 

Fátima Giovanna Coviello Ferreira, diretora de Economia e Estatística da Abiquim, sugeriu como próximo encontro com Luciana Costa uma apresentação sobre o cenário atual do setor químico, incluindo as oportunidades já mapeadas pela Abiquim, inclusive com o foco para acelerar o processo, o que foi prontamente aceito pela diretora do BNDES.

 

Competitividade

Cumprimentando Luciana Costa pela exposição clara, ampla e muito bem desenhada sobre o cenário da Transição, André Passos Cordeiro, presidente-executivo da Abiquim, destacou a relevância da colocação da diretora do BNDES ao afirmar que a transição energética está inserida na disputa geopolítica internacional. Nesse sentido, ele completou que a indústria e, em especial, a química é parte central dessa disputa, sobretudo no último período com a guerra comercial entre China e EUA. Para Passos essa compreensão é crucial, já que faz aumentar a importância das questões de competitividade do setor industrial.

 

 “O Brasil cumpriu muito bem a tarefa de criar o mercado da energia renovável, porém, essa construção não foi feita de maneira totalmente correta, uma vez que toda essa geração de energia renovável gerou um custo brutal para a indústria brasileira, retirando em parte a competitividade dela em relação aos setores produtores, especialmente os de bens intermediários e setores energointensivos, em relação ao resto do mundo”, ressaltou o presidente da Abiquim, incluindo os químicos e as indústrias do aço, vidro, cimento e alumínio – segmentos que foram muito impactados pelo custo de energia e pelo custo desse processo de transição.

 

Uma vez que Costa também destacou o gás natural como molécula crucial no processo de transição, Passos também chamou a atenção para o alto custo do gás para esses setores ao longo desse período - seja como energia ou como matéria prima. “Essa incrível matriz limpa que o Brasil gerou não se transformou em competitividade para a indústria brasileira. Hoje, por exemplo, registramos 42% de ociosidade na indústria química, em média. Esse é um desafio muito importante que a Abiquim e os setores mencionados estão tentando trabalhar. Caso contrário corremos o risco de avançar ainda mais nas eólicas offshore, hidrogênio verde e biometano com um carregamento de custo para o processo industrial que é insustentável. Ou ainda de ver modelagens como a da produção de hidrogênio e de zonas de processamento de exportação que vão transformar o Brasil de novo em um exportador de commodities, dessa vez na forma de energia”, alertou.

 

Passos concluiu sua fala dizendo que estão sendo destinados pesados subsídios para o hidrogênio, ou seja, um direcionamento de recursos que a indústria química ainda precisa para terminar sua estruturação e ganhar competitividade, assim como outros setores no Brasil. “De novo um descasamento de modelos. Podemos ter muita energia, sem que esse excesso se transforme em maior competitividade porque o modelo estabelece algum tipo de bloqueio. Como o modelo regulatório não é perfeito para simular concorrência e reduzir custos finais ao demandante, nos deparamos com esse desafio. Nossa necessidade, portanto, é também discutir com o BNDES, como avançar e como sair dessa armadilha”, finalizou.

 

Fátima Giovanna reforçou a mensagem, ao destacar a própria fala da diretora do BNDES ao mostrar todo esse esforço do Brasil na descarbonização e seu modelo exitoso de encontrar essa agenda de energia renovável. Entretanto, a diretora de economia da Abiquim, questionou como aproveitar essa vantagem que o Brasil tem e ao mesmo tempo blindar a indústria nacional de países como a China que tem uma matriz energética suja, baseada em carvão. “Em grande medida, é esse produto que hoje está invadindo o Brasil. Temos muito a conversar e contribuir com o país nessa agenda”, finalizou, reiterando a proposta de construir junto ao BNDES uma agenda para olhar as oportunidades de atração de investimento, mas também como trazer mais competitividade para a indústria que está dentro do País.