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Concorrência desleal e preço de insumos básicos são entraves

Quinta-Feira, 23 de Maio de 2024

Base para inúmeros produtos manufaturados, a indústria química, se estimulada, terá capacidade de gerar mais empregos qualificados,

além de ampliar o desenvolvimento e a inovação tecnológica do país


A partir da esquerda: Paulo Gala (online); Leonardo Durans; Deputado Afonso Motta; Rafael Lucchesi; e Alexa Salomão
Foto: Abiquim/Reprodução


A indústria química brasileira enfrenta desafios de competitividade que têm gerado efeitos negativos em seu desenvolvimento. Entre eles estão o avanço da concorrência externa e o alto custo das matérias-primas. “O Brasil não consegue concorrer em condições iguais com a indústria asiática, por exemplo, que opera com subsídios altos do governo. É uma luta ingrata, de um peso pena contra o Mike Tyson”, afirmou Paulo Gala, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e especialista em desenvolvimento industrial, no painel ‘Insumo Base para os Diversos Mercados e Aplicações’.

 

Para Leonardo Durans, diretor do departamento de desenvolvimento da indústria de insumos e materiais intermediários do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), a retomada do Regime Especial da Indústria Química (Reiq) é um exemplo de mecanismo para estimular a indústria.  “Temos hoje uma nova modalidade, o Reiq Investimento, que permite às empresas ampliarem a capacidade instalada de produção de químicos e petroquímicos, aumentar a competitividade e inovar no processo produtivo”, afirmou Durans.  Além disso, o governo, por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, está olhando para a indústria de forma sistêmica, para os insumos, como o gás natural, e tentando identificar as oportunidades”, ressaltando que uma das ações é a discussão sobre o aumento da oferta de gás natural e a redução do preço desse insumo, que é importante para a indústria química.

 

Segundo o economista Paulo Gala, o grande desafio do Brasil hoje é desenvolver setores com potencial para pagar salários maiores e gerar inovação. “A indústria química é um exemplo disso, porque gera arrecadação de impostos, altos salários com emprego formalizado e inovação tecnológica. Por outro lado, com o percentual de uso de capacidade instalada mais baixo dos últimos 20 anos – 64% - ela precisa da força das instituições públicas, de financiamento e, eventualmente, de alguma proteção contra práticas ambientais não corretas dos concorrentes internacionais”, disse Gala.

 

Participação do Estado

Rafael Lucchesi, diretor de desenvolvimento industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), descreveu três cenários atuais que podem criar janelas de oportunidade para a indústria brasileira: a ascensão de uma nova dinâmica produtiva, com a economia digital; os extremos climáticos; e a crescente complexidade geopolítica.

 

“Nesses três aspectos, o Brasil tem vantagens estratégicas, porque pode incorporar os novos fatores produtivos da economia digital, impulsionados pela descarbonização e pela transição energética. O Brasil pode ser a Arábia Saudita na produção de energia verde, barata, segura e em grande quantidade”, afirmou. “Temos também a enorme vantagem de uma geopolítica bem balanceada e articulada com todos os principais blocos”, ressaltou Lucchesi, alertando porém, que sem atenção à indústria, o País vai empobrecer.

 

Para o deputado federal Afonso Motta, presidente da Frente Parlamentar da Química, o setor vive hoje uma situação desigual, especialmente pela competição internacional e o alto valor dos insumos. “Não é fácil estabelecer uma agenda. Para conseguir colocar na pauta uma regulação que possa, por exemplo, ter uma repercussão direta e imediata na competição com os produtos importados, precisamos antes montar uma estratégia, porque hoje a lógica parlamentar é colocar na pauta temas que tenham consenso, entendimento e uma grande maioria”, afirmou Motta. “Temos todos a mesma preocupação, que é, a partir dos acordos possíveis, fazer as definições de boas políticas públicas para o setor químico”, completou o parlamentar.