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Integração entre empresas e Estado pode deslanchar química verde
Quinta-Feira, 23 de Maio de 2024
Indústria química deve ampliar a prática de economia circular, mas
precisa de políticas públicas de estímulo para o setor
A química verde no Brasil depende de integração entre Estado, empresas e a sociedade, pois países que não optarem por uma mudança nas linhas de produção lineares (que dependem exclusivamente de combustíveis fósseis) para a prática da economia circular (com uso de fontes renováveis) ficarão pelo caminho, colocando em risco o avanço do setor químico e o próprio desenvolvimento econômico do país. Essa é uma das principais avaliações de especialistas que participaram do painel “Transição para uma Química Verde”, o terceiro do seminário.
Daniela Manique, do Grupo Solvay e presidente do Conselho Diretor da Abiquim, afirmou que o Brasil já é muito bem avaliado pelo mercado internacional em razão do investimento em etanol. Mesmo assim, segundo ela, a transição para a química verde depende do fortalecimento de políticas públicas para o setor e da eliminação de alguns gargalos.
Segundo Manique, com o incentivo à produção do hidrogênio verde, por exemplo, o investimento em uma indústria química mais sustentável pode ser feito de uma forma muito mais rápida no Brasil. “Porém, somos o país que menos dá apoio a esse tipo de produção.”
De acordo com a executiva, os Estados Unidos adotam uma política extremamente agressiva e praticamente pagam para que se produza esse combustível. “E países da Europa e Ásia seguem a mesma linha”, explicou. Ela também afirmou que o Brasil precisa encontrar meios de taxar o carbono que chega ao país por meio da importação de insumos, pois ele está associado a fontes sujas de energia. Além disso, ela aponta que outro gargalo no país é referente ao preço do gás natural.
Dentro desse contexto, o engenheiro químico Cláudio Brandão, diretor-executivo da consultoria S&P Global Commodity Insights, disse que não se deve deixar o lucro represado nas refinarias. Para ele, “o sucesso passa por repassar o ganho para toda a cadeia produtiva”.
“No sudoeste da Ásia, o que vem dando certo é a construção de parques industriais próximos da fonte [de gás]”, explicou o consultor. Ao contrário do Brasil, onde, em vários casos, existe a necessidade de redes de dutos para fazer o gás natural chegar até onde ele seja necessário.
Brandão também aposta na integração entre vários setores da sociedade brasileira, inclusive o agrícola, e a aplicação de políticas públicas de incentivo para facilitar a transição para uma química verde. “A integração completa entre a indústria química e a produção agrícola vai tornar o Brasil, que tem um potencial gigantesco nessas áreas, um líder global em processos de química verde”, disse.
Secretário de economia verde do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Rodrigo Rollemberg afirmou que o governo federal tem atuado no combate à concorrência desleal dos importados, mas admitiu que é preciso buscar outras alternativas para fortalecer a indústria química e acelerar a transição energética.
Rollemberg reforçou a importância da parceria entre os setores público e privado e lembrou que também cabe ao Congresso Nacional um papel importante na criação de políticas públicas que possam impulsionar a sustentabilidade do setor. “A gente precisa avançar em uma agenda que a médio prazo será muito importante para o setor, com a aprovação do mercado regulado de carbono”, disse, ao lembrar do projeto que estabelece as regras para a negociação dos direitos de emissão e também de outros títulos atrelados à descarbonização.
País tem uma das menores pegadas de carbono do planeta
A consolidação da química verde no Brasil, apesar dos gargalos, vem ganhando terreno, segundo Daniela Manique, da Abiquim. “Do total das nossas fábricas, 94% usam energia renovável. O setor, em comparação com outros países, tem uma das menores pegadas de carbono do mundo. Além do etanol como matéria-prima, exportamos resinas verdes desenvolvidas 100% no Brasil, por meio das nossas equipes de P&D.”
O fato de o Brasil não precisar do carvão, por exemplo, é um ganho e tanto, afirmou. “Já estive na China em cidades onde o carvão é usado. Você não vê o céu, parece sempre que está nublado. Todos vão pagar a conta. Não dá para dizer que mudanças climáticas não existem. Não podemos ser os patrocinadores dessa química destrutiva que nós vemos na Ásia”, disse.
O secretário de economia verde do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Rodrigo Rollemberg, afirmou que existem duas iniciativas importantes sendo gestadas. “Estamos desenvolvendo a Política Nacional de Bioeconomia, que terá um impacto importante na química verde. Além disso, o MDIC está costurando em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente uma estratégia nacional de economia circular, que vai desde o design dos produtos até a reciclagem e reutilização das matérias-primas.”