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Elas avançam na química, mas ainda há espaço para mais conquistas

Terca-Feira, 08 de Marco de 2016

A química foi a primeira ciência a ter uma mulher entre seus maiores expoentes. A polonesa Marie Curie, radicada na França, foi a primeira mulher a receber um Nobel, em 1903, quando ganhou o prêmio de Física, e em 1911 recebeu o de Química por seus serviços para o avanço da ciência pela descoberta dos elementos polônio e rádio, pelo isolamento do rádio e o estudo da natureza e dos compostos deste elemento. Marie Curie foi a primeira pessoa a ser premiada em campos diferentes e até hoje é a única mulher a receber dois prêmios Nobel. 

Desde o começo do século passado, o mundo se transformou e a participação das mulheres no mercado profissional, incluindo a pesquisa científica, cresceu. De 1901 a 1980 o Prêmio Nobel foi concedido a 19 mulheres, de 1981 a 2015 foram premiadas 30 mulheres. 

A participação delas também cresceu na pesquisa científica brasileira. Segundo o censo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) de 2014, de uma base total de 180.262 pesquisadores cadastrados no órgão, a distribuição entre homens e mulheres é igual. No primeiro censo realizado pelo CNPq em 1995, a proporção entre os pesquisadores brasileiros era de 61% homens e 39% mulheres. O equilíbrio na divisão entre os gêneros foi aumentando nas pesquisas seguintes, até que em 2010 alcançou a igualdade. 

Porém, quando é analisada a condição de liderança dos pesquisadores, a participação dos homens ainda é maior. Em 2014, a proporção era de 54% homens e 46% mulheres. Mas essa diferença já foi muito maior. Em 1995, 66% dos líderes de pesquisa eram homens e apenas 34% mulheres. 

A professora titular do Instituto de Química da Unesp de Araraquara, Vanderlan da Silva Bolzani, concorda que as mulheres vêm ganhando espaço na pesquisa científica. “Olhando para trás, há muitos anos, a ciência era um mundo masculino. Hoje vejo um avanço enorme”, conta a pesquisadora, que representa o Brasil na União Internacional de Química Pura e Aplicada (Iupac), organização não governamental internacional dedicada ao avanço da química. Vanderlan também foi uma das premiadas na última edição do Prêmio Kurt Politzer de Tecnologia, concedido pela Abiquim em dezembro passado, na categoria Pesquisador.

No entanto, como demonstrado no censo do CNPq, nos cargos de liderança ainda existe uma maioria masculina. “A ciência é um campo fascinante para as mulheres, se ela for muito competente, com certeza conseguirá ser uma grande cientista. Não vejo muita discriminação, mas nos cargos de chefia ainda existe uma predominância masculina e os trabalhos publicados por homens têm mais citações em relação aos produzidos por mulheres”, explica Vanderlan, que tem 235 trabalhos publicados e é vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

A professora do Departamento de Química da UFSCar, Vânia Gomes Zuin, concorda que, conforme o grau de titulação e tempo na carreira aumentam, o número de mulheres diminui, principalmente em cargos de comando ou decisórios. “Como exemplo, basta verificar a reduzida quantidade de professoras titulares, bolsistas produtividade em pesquisa nível 1, bem como coordenadoras de equipes científicas e projetos de elevada monta em temas estratégicos no Brasil, o que não difere em grande medida de outros países”.

Mas Vânia lembra que a situação vem melhorando. “O número de pesquisadoras no campo da Química tem aumentado em cargos de liderança, comitês científicos, associações e sociedades de classe, mas ainda se encontra muito abaixo do ideal, por várias razões, majoritariamente culturais e sociais. O apoio da família, do estado, da instituição em que se encontram vinculadas são fundamentais para garantir a permanência e ascensão de pesquisadoras nas carreiras científicas, especialmente em áreas competitivas”, explica Vânia, que também é professora convidada do Departamento de Química da Universidade de York, na Inglaterra, e membro do subcomitê de Química Verde da Iupac.

A professora Glaura Goulart Silva, do Departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), coordenadora-executiva do Centro de Tecnologia em Nanomateriais de Carbono sediado no Parque Tecnológico Bhtec e consultora da Ipol Nanotecnologia, empresa vencedora na categoria Empresas Nascentes de Base Tecnológica (Startups) do Prêmio Kurt Politzer de Tecnologia, em 2015, concorda que ocorreu uma evolução na participação das mulheres no mercado de trabalho brasileiro nas últimas décadas. “Quando fiz meu doutorado na França, em torno de 1990, havia uma diferença sensível na presença e atuação de mulheres entre França e Brasil em todos os campos da sociedade, inclusive na pesquisa”, lembra.

Lecionando desde 1993 e com mais 90 trabalhos publicados, Glaura acredita que na pesquisa química o preconceito não é um fator preponderante, diferente de outras áreas. “O papel de liderança efetiva das mulheres é ainda limitado por questões diversas, inclusive a de preconceito. Um dos problemas atuais, por exemplo, é quando as mulheres têm seus filhos e não conseguem financiar a ajuda externa (babás ou boas creches) e são obrigadas a deixar ou diminuir sua atividade profissional”, conclui. 

A ex-diretora presidente da Associação Petroquímica e Química Latino Americana (Apla), Graciela J. González Rosas, acredita que a presença das mulheres nas empresas do setor químico brasileiro é maior do que em outros países da América Latina. Graciela, que ocupou o cargo de 2000 a 2013, conta que, apesar de não ter acesso aos dados oficiais, entre os países da América Latina com os quais tem contato com a indústria, o Brasil tem uma porcentagem de mulheres superior aos demais. 

Graciela, que hoje é consultora da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), trabalha no desenvolvimento de um projeto do órgão internacional que premiará mulheres engenheiras na América Latina. “Um dos objetivos do projeto é também formar uma base de dados para avaliar a evolução de engenheiras na indústria química, petroquímica da América Latina”, explica.

Para garantir o equilíbrio entre homens e mulheres na pesquisa e na indústria química, é preciso criar os alicerces para incentivar as meninas a se interessarem pela química. A professora Vanderlan Bolzani conta que seus professores da infância até o mestrado a inspiraram a pesquisar e se interessar pela ciência. “A química é uma ciência com capacidade para tornar o mundo um lugar melhor e isso será alcançado por meio do trabalho de homens e mulheres. As mulheres tornam o mundo um pouco mais humanizado, sendo duras quando necessário, mas acima de tudo, tendo sensibilidade”, conclui.

A professora Vânia Gomes Zuin lembra que também é necessário criar ferramentas e condições que permitam às mulheres conciliar a pesquisa acadêmica e a vida familiar. “No Brasil, as pesquisadoras podem contratar prestadores de serviços domésticos que lhes possibilitam trabalhar fora de casa. Em outros países, como a Alemanha, as escolas públicas têm horários estendidos, semelhantes aos praticados pelas instituições de pesquisa, o que ajuda a família e sociedade como um todo. Precisamos encontrar meios adequados para tratar destas questões, que não devem ser consideradas como problemas, mas como especificidades, pois uma equipe científica que tenha diversidade de gênero, formação, experiência dentre outros atributos só tem a acrescentar em termos de qualidade e pertinência”, afirma.

Assista à homenagem da Abiquim às Mulheres da indústria química brasileireira no canal da Associação no Youtube:
https://youtu.be/1Z7fC3QQaWk



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